O Seminário Nacional sobre a Vida Religiosa iniciou suas atividades no domingo, 26, com a Celebração Eucarística que levou os participantes a olhar para a Missão na perspectiva da inculturação. Logo após, os trabalhos foram iniciados tendo como assessora a Irmã Bárbara Bucker, mc, da Equipe Teológica da CRB e professora de Ética Cristã, PUC- RJ.
A sua exposição retomou os temas dos dias anteriores ressaltando alguns aspectos como o possível descompasso entre a teologia e a vida, o modo de pensar Deus e a vida do povo; o fato de não estar só, mas em fraternidade e a exige uma aprendizagem constante.
Destacou, ainda, a importância de pedir a Deus um “coração pensante”, capaz de captar o seu o mistério, um coração atuante, apostólico, decidido. Tudo isso para qualificar o Ser e unificar a missão da Igreja fruto de um coração pensante, atuante e enamorado.
Ao abordar o tema do dia “Testemunhas de tempos novos”, Ir. Bárbara falou sobre a denúncia. Esta mostra o que não deve existir, que é contrário ao desígnio de Deus, que é não comunhão com Ele. Deus quer a vida de todos em abundância e isso implica o investimento da energia, do tempo e da disposição de cada pessoa.
O mundo criado por Deus e co-criado por seus filhos e filhas exige a vocação de ser pão e alimento. Isso pode diminuir as distâncias criadas pelos humanos e acentuar o esforço de comunhão para construir o santuário do “nós”. O filho de Deus na encarnação traz essa mensagem.
A assessora interpelou os participantes com os seguintes questionamentos: “Estamos tão seguros/as de que a secularização tem somente sentido negativo de um mal a ser evitado? Há na secularização, aspectos importantes para a Igreja e a vida religiosa?” Em seguida, propôs uma interpretação do “secular” que está, segundo seu modo de perceber, mais de acordo com a revelação bíblica, e que permite descobrir o sentido positivo da secularização, essencial para o futuro da vida religiosa.
Irmã Bárbara enfatizou que Jesus não foi um sacerdote no estilo do Antigo Testamento, mas foi um leigo com uma profissão conhecida em Nazaré. Um “Mestre” que convoca discípulos não para estudar a Lei, mas para anunciar o Reino de Deus como um dom que se oferece quando se ama o próximo.
O próximo, nesse caso são especialmente os marginalizados, excluídos, doentes, necessitados de perdão e da misericórdia de Deus.
Assim a atividade secular se torna “parábola” de como se constrói o Reino de Deus e se forma e envia à comunidade de discípulos missionários para a salvação do mundo. A partir disso, todos são formandos e formadores numa relação mútua.
Para captar o positivo da secularização, se faz necessário “reordenar” as categorias do “religioso e secular”, do “sagrado e do profano”. Assim se clarifica a vocação profética da Vida Religiosa como “testemunhas de tempos novos”. Na revelação bíblica não há profanidade, mas é a liberdade humana rebelde à criação divina, que se coloca em oposição a ela.
O que distingue a vida religiosa da laical não é o caráter “sagrado”, mas o caráter da relação. A relação é consigo, com outro, com Deus, com o mistério. É importante considerar que, a profanação do sagrado pode dar-se tanto no âmbito do religioso (pecado de simonia) como no secular.
A teóloga desafiou a assembleia a repensar suas categorias de sagrado, pois se pode correr o risco de julgar o outro pela aparência, sem conhecê-lo através da relação, isso exige uma postura de aprendizagem com o outro.
Bucker finalizou dizendo que vocação cristã de estar no mundo e não ser do mundo segue sendo uma exigência do Evangelho. É uma vocação para viver o penúltimo com referência ao último e não para considerar o secular como alheio ao religioso, porque a sacralidade humana vivida pela obediência à ação sagrada de Deus abraça o secular e religioso, o penúltimo e o último.
O futuro da Vida Religiosa não vem do Direito, mas do Evangelho. “Todas/os nós, religiosos/as do mundo, deveríamos ter muito claro que o nosso futuro vai estar na sensibilidade concreta e efetiva que nós tenhamos pela dor e a humilhação dos mais infelizes desta Terra”, conclui citando o teólogo José Castillo.
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