sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

As cores das flores


O vídeo “As cores das flores” conta a história de um garoto que lida com o desafio de uma atividade escolar. Sem o recurso da visão, ele cria uma lógica particular para se relacionar com a realidade, que recebe significados para além das definições usuais. O supervisor de pesquisa e projetos do ODC, José de Oliveira Junior, observa esse percurso humano, ou a experiência criativa de descobrir e dar sentido ao mundo.

“Às vezes fico pensando também porque perdemos a capacidade de nos maravilhar diante da experiência do outro, seja ela qual for? Talvez isto nos impeça de conhecer o novo, de dar ao outro a possibilidade de me surpreender…

O momento inicial da busca, quando ele se depara no Google com termos fora de seu universo simbólico “*Fotorecep. quê?*” foi um momento peculiar…os discursos para se descrever o mundo são mesmo engraçados e não servem igualmente todos e nem nos abrem portas para conhecer verdadeiramente.”*el caracol y el pajarito se pusieran a discutir Quien se quedava conla flor*” também dá uma mostra de como cada um constroi sua forma de assimilar, assemelhar e significar o mundo, por caminhos singulares.

Ao parar para ouvir o som do pássaro cantando, talvez tenha percebido o que tinha à disposição para ir neste caminho de “significai-vos e dominai o mundo”. Enquanto o coleguinha chegou para conversar com ele com aquela mesma definição capturada antes no Google, ele tateou com os elementos que tinha à disposição no seu corpo e pôde construir um caminho próprio de experiência de criatividade e significação.

Ao falar das “*flores cor de pássaro, flores cor de abelha…*”, ele abre outras formas de compor a experiência no mundo e pensar outros discursos “competentes”, da mesma forma que fazem os poetas, como Manoel de Barros, por exemplo, ao lembrar do tempo de infância, quando aprendemos mais porque somos menos condicionados à obviedade e talvez experimentemos mais: “NOSSO CONHECIMENTO NÃO ERA DE ESTUDAR EM LIVROS. ERA DE PEGAR DE APALPAR.  DE OUVIR E DE OUTROS SENTIDOS. SERIA UM SABER PRIMORDIAL?” (BARROS, Manoel. Menino do Mato. São Paulo: Leya, 2010. p.11). Se temos tantos e múltiplos sentidos para construir nossa experiência com o mundo, porque limitar-nos a descrições rasas que outros fazem de tudo que há no mundo?

Legitimar a experiência DO outro/COM o outro é também compreender os caminhos peculiares que cada um pode fazer a partir da sua própria realidade e demonstra um pouco do que é necessário ao lidar com diálogos interculturais, pensando do ponto de vista da cultura pessoal/individual, que tem aspectos que independem do coletivo e são baseados na experiência pessoal com o mundo, como a criatura o fez neste vídeo. Em parte até dentro de cada casa (quem sabe até cada um dentro de si) os caminhos de experienciar o mundo são diferentes.

Os usos que dou a muitas palavras costumam deixar alguns estranhados. E não é que muitas tenham um significado, mas são só formas de me sentir um pouco mais livre. Não posso ficar “inventando palavras o tempo todo, sob pena de me tornar incompreendido”, como Saussure fala ao dizer sobre como fazemos o tempo todo “*tentativas de explicar aproximadamente uma palavra ou termo embaraçante relacionando-a com algo conhecido*”.

Texto: José Junior

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