O vídeo “As cores das flores” conta a história de
um garoto que lida com o desafio de uma atividade escolar. Sem o recurso da
visão, ele cria uma lógica particular para se relacionar com a realidade, que
recebe significados para além das definições usuais. O supervisor de pesquisa e
projetos do ODC, José de Oliveira Junior, observa esse percurso humano, ou a
experiência criativa de descobrir e dar sentido ao mundo.
“Às vezes fico pensando também porque perdemos a
capacidade de nos maravilhar diante da experiência do outro, seja ela qual for?
Talvez isto nos impeça de conhecer o novo, de dar ao outro a possibilidade de
me surpreender…
O momento inicial da busca, quando ele se depara no
Google com termos fora de seu universo simbólico “*Fotorecep. quê?*” foi um
momento peculiar…os discursos para se descrever o mundo são mesmo engraçados e
não servem igualmente todos e nem nos abrem portas para conhecer
verdadeiramente.”*el caracol y el pajarito se pusieran a discutir Quien se
quedava conla flor*” também dá uma mostra de como cada um constroi sua forma de
assimilar, assemelhar e significar o mundo, por caminhos singulares.
Ao parar para ouvir o som do pássaro cantando,
talvez tenha percebido o que tinha à disposição para ir neste caminho de
“significai-vos e dominai o mundo”. Enquanto o coleguinha chegou para conversar
com ele com aquela mesma definição capturada antes no Google, ele tateou com os
elementos que tinha à disposição no seu corpo e pôde construir um caminho
próprio de experiência de criatividade e significação.
Ao falar das “*flores cor de pássaro, flores cor de
abelha…*”, ele abre outras formas de compor a experiência no mundo e pensar
outros discursos “competentes”, da mesma forma que fazem os poetas, como Manoel
de Barros, por exemplo, ao lembrar do tempo de infância, quando aprendemos mais
porque somos menos condicionados à obviedade e talvez experimentemos mais:
“NOSSO CONHECIMENTO NÃO ERA DE ESTUDAR EM LIVROS. ERA DE PEGAR DE
APALPAR. DE OUVIR E DE OUTROS SENTIDOS. SERIA UM SABER PRIMORDIAL?” (BARROS,
Manoel. Menino do Mato. São Paulo: Leya, 2010. p.11). Se temos tantos e
múltiplos sentidos para construir nossa experiência com o mundo, porque
limitar-nos a descrições rasas que outros fazem de tudo que há no mundo?
Legitimar a experiência DO outro/COM o outro é
também compreender os caminhos peculiares que cada um pode fazer a partir da
sua própria realidade e demonstra um pouco do que é necessário ao lidar com
diálogos interculturais, pensando do ponto de vista da cultura
pessoal/individual, que tem aspectos que independem do coletivo e são baseados
na experiência pessoal com o mundo, como a criatura o fez neste vídeo. Em parte
até dentro de cada casa (quem sabe até cada um dentro de si) os caminhos de
experienciar o mundo são diferentes.
Os usos que dou a muitas palavras costumam deixar
alguns estranhados. E não é que muitas tenham um significado, mas são só formas
de me sentir um pouco mais livre. Não posso ficar “inventando palavras o tempo
todo, sob pena de me tornar incompreendido”, como Saussure fala ao dizer
sobre como fazemos o tempo todo “*tentativas de explicar aproximadamente uma
palavra ou termo embaraçante relacionando-a com algo conhecido*”.
Texto: José
Junior
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