Tenho um poema, escrito há alguns anos, que diz assim: “Periodicamente/Os
meus fantasmas querem me atirar/ No precipício/E eu resisto:/Agarro-me das
pedras e não caio/Porque morrer não dói/Mas é fatal.” E é bem isso: morrer é
fatal. Um minuto, um segundo, e você não está mais nesse mundo, nesse corpo
(para os que creem que temos um espírito), nessa galáxia (para quem acredita
que somos ETs) ou em lugar nenhum (para os adeptos do “morreu, acabou-se”). No
entanto, mais fatal do que morrer é desaparecer.
Sim, não penso que sejam a mesma coisa. Morrer é deixar de
existir. Desaparecer é apagar o rastro que você deixou por onde passou.
Desaparecer, nesse sentido, então, é muito pior, é muito mais fatal. Eu não
tenho medo de morrer. Tenho medo é de desaparecer.
Desaparece aquele que não deixa uma nada de importante feito (ao menos, para
outrem que não seja seus parentes do “núcleo duro”, os que lhe guardam alguma
afeição, os que lhe devotam um amor incondicional); nenhuma construção –
física, intelectual, simbólica, material ou imaterial; nada que mereça ser alvo
de curiosidade pública no porvir – seja este porvir perto ou longe.
Por isso que existe aquele dístico a afirmar que todo Homem tem que plantar uma árvore, publicar um livro e ter um filho, para que sua vida tenha a sensação de ter valido a pena. Na verdade, não é para que a vida tenha valido a pena. É para que essa pessoa não desapareça, considerando-se que um filho, um livro e uma árvore trazem, em si, uma concepção de longevidade memorial, de perenidade.
E, em tempos de internet, de volatilidade das memórias de longo
prazo, cada vez mais a duração das lembranças tem vida menor. Quer ver? Você se
lembra do último livro que leu? Ou do último filme que viu? Ou da roupa que
estava vestindo ontem? Você se lembra da última palestra a que assistiu – como
era mesmo o nome do palestrante?? É próprio desses tempos, somos tão
intensamente assaltados por estímulos de informação que, ao fim e ao cabo, não
nos lembramos de nada – ou de muito pouca coisa.
O resultado disso? Se quisermos não desaparecer, teremos que
fazer um esforço muito maior. Plantar mais árvores, ter mais filhos, publicar
mais livros. Mas também podemos substituir essas coisas por fazer boas ações
que alcancem mais gente, fundar uma ONG séria, produzir filmes, pintar quadros,
lançar discos, dizer algo que, realmente, valha a pena ser dito e “viralizado”,
ocupar com qualidade o espaço público, melhorar o mundo com boas propostas.
Nada impede que, fazendo cada uma dessas coisas (ou todas juntas), não sejamos
esquecidos rapidamente. Mas a chance de apenas morrermos é muito maior…
Um dia desses, passando por uma cidadezinha no percurso São Luís-Imperatriz, vi uma escola com o nome de uma professora da Ufma, com quem trabalhei no antigo Cefet. Fiquei feliz, porque sei do seu compromisso com a educação. E agora percebo que ela, ali naquele gesto, não desaparecerá. Mas ninguém precisa esperar virar nome de prédio para não desaparecer. Uma coleção de lembranças afetuosas das pessoas com quem você contribuiu já tá valendo.
Um dia desses, passando por uma cidadezinha no percurso São Luís-Imperatriz, vi uma escola com o nome de uma professora da Ufma, com quem trabalhei no antigo Cefet. Fiquei feliz, porque sei do seu compromisso com a educação. E agora percebo que ela, ali naquele gesto, não desaparecerá. Mas ninguém precisa esperar virar nome de prédio para não desaparecer. Uma coleção de lembranças afetuosas das pessoas com quem você contribuiu já tá valendo.
Marcos Fábio Belo Matos – professor
doutor do Curso de Jornalismo da Ufma Imperatriz/MA
Frei um belo artigo e muito reflexivo. Tenho que me apressar, pois não quero desaparecer, portanto, tenho que deixar algum legado nesta vida que façam com que as pessoas se lembrem de mim. Obrigado, por compartilhar com seus internautas mais este texto. Um abraço.
ResponderExcluirAchei bonito o texto, mas não me preocupo com essa coisa do "desaparecer". Eu estou tentando fazer minha parte como cristã, fazendo o que Padre Pio pediu: "OCUPEM O TEMPO DE VOCÊS BUSCANDO ALMAS PARA JESUS"; agora, se serei importante pelo que faço pelas pessoas daqui, não sei; eu me preocupo é com DEUS, com o que ele pensa ao meu respeito. Se eu fizer o bem levando um pouco de fé a alguém e eu ser reconhecida, ser lembrada por isso, muito bom, mas se não acontecer, não tem problemas, fiz minha parte e Deus sabe disso...
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