Grande tristeza!

Todos nós temos as nossas próprias tristezas, sonhos destruídos e corações feridos. Tal afirmação não significa que não temos alegrias. Um coração machucado pode ter seus momentos de alegria. Porém, o que eu quero dizer é que todos nós temos sempre uma grande tristeza.

Recentemente conclui a leitura de um livro em que o personagem principal estava envolvido num trama pessoal e familiar e  o seu coração foi invadido por uma grande tristeza. Aqui não quero me deter sobre o drama do personagem, mas confesso que este livro me marcou e me fez refletir também sobre a minha grande tristeza e de tantas outras pessoas que me circundam ou que ao longo do meu ministério sacerdotal me procuraram. Outro dia um colega sacerdote muito jovem dizia que havia atendido várias pessoas em sua comunidade e o que mais lhe havia impressionado era que, quase todos, ao se aproximarem para a confissão ou para uma conversa espiritual choravam longamente e falavam de tristeza, uma grande tristeza!

Todos nós temos nossos segredos, e muitas vezes, neles guardamos a nossa grande tristeza. Ela chega quase sem avisar e vai tomando conta de nós, nos paralisando e nos distanciando até mesmo das pessoas que mais amamos. Quando ela chega ficamos inertes e o silêncio e a solidão vão tomando conta do nosso ser. As companhias que eram tão divertidas agora se tornam um pesadelo e não conseguimos mais nos abrir, as pessoas lentamente vão se afastando e aos poucos nos afogamos em nossa grande tristeza.

Nosso único desejo é ficarmos sozinhos, distantes, talvez porque o encontro, uma conversa pode incorrer no risco de arrancar a casca que envolve um coração ferido. A vida continua, mas tudo o que fazemos como: comer, trabalhar, amar, sonhar e nos divertir podem ser usados como uma máscara ou uma vestimenta, como se fosse um roupão de chumbo a nos proteger dos outros e das experiências que nos trazem. Nestas horas, o que mais nos importa é que ninguém saiba qual é a nossa grande tristeza. Precisamos de alguém, mas o muro “seguro” se torna alto demais e nos sentimos sempre mais distantes de quem amamos e de quem nos ama. “A tristeza é um muro entre dois jardins”, diz Khalil Gibram.

Não existe sofrimento na Terra que o Céu não possa curar. Então, não pode existir tristeza tão grande que não possa ser curada. Diante disto cada um pode se perguntar: - Qual é a minha grande tristeza? Quais os males que ela me traz e onde encontrar a sua raiz?

Jesus Cristo também viveu sua grande tristeza ao ponto de dizer:  “Meu Deus, Meu Deus porque me abandonastes?”. Diante do sofrimento e da angústia que caracterizam a adversidade profunda da Paixão e Cruz, Jesus se manteve Senhor da situação.

Antes de ser preso para morrer na Cruz, Jesus procura o silêncio para refletir, mas não vai sozinho, leva consigo seus amigos; não enfrenta a adversidade da Cruz sozinho, mas em companhia de quem ama, dos seus discípulos, que era também a sua família. Com eles Jesus rezou e se fortaleceu interiormente. É claro que isso que não o salvou da grande e dolorosa adversidade da flagelação, da coroação de espinhos, do tribunal feito de injustiças e, por fim a Morte de Cruz... Mas Ele não fugiu; não traiu o projeto do Pai e passou pela adversidade, fortalecido pela confiança inabalável de que Deus jamais o abandonaria. Mesmo na adversidade, e apesar da intensidade do sofrimento, Jesus continuou confiando em Deus.

Olhando o sofrimento de Jesus e vendo como ele enfrentou a sua grande tristeza, que nós também possamos buscar força para enfrentarmos a nossa grande tristeza. Levantemos os nossos olhos e voltemos a contemplar a Cruz de Jesus para fortalecer-nos da força interior, marcada pela confiança inabalável no Pai, como fez Jesus. Nós cremos e confiamos que mesmo na adversidade da Cruz, que poderá nos atingir, o Pai não nos abandonará jamais e mostrará sua face serena para que não sejamos derrotados.

Que a grande tristeza do seu coração, do meu coração se transforme em vitória da Vida sobre a morte e passemos da tristeza ao júbilo da Ressurreição.

(Texto extraído do próximo livro de Frei Rodrigo que será lançado em breve)