“O pecado é a tua
tristeza, deixa que a santidade seja a tua alegria.” (Santo Agostinho).
A alegria do cristão não se confunde com prazer, que é a
satisfação do corpo; é o bem estar da alma. É importante saber que a alegria
não está nas coisas, mas em nós. As coisas nos dão prazer, mas nem sempre nos
dão alegria, que é a felicidade da alma. A alegria nasce no interior de um
espírito cultivado pela beleza, pela pureza e pelas virtudes. Esta é a alegria
cristã, brota no bojo das virtudes.
São Paulo disse aos romanos: “Sede alegres na esperança,
pacientes na tribulação e perseverantes na oração. Alegrai-vos com os que se
alegram; chorai com os que choram.” (Rm 12,12-16).
O Apóstolo recomenda três remédios contra a tristeza:
esperança, paciência e oração. Em primeiro lugar é preciso esperança, que é uma
virtude teologal, vem de Deus. Ele é a nossa esperança, a nossa força; Ele
comanda o mundo e nada escapa de suas mãos; então, essa esperança traz a vida e
a coragem de vencer a tristeza que sufoca a alma.
O salmista nos ensina: “Em silêncio, abandona-te ao Senhor,
põe tua esperança nele” (Sl 36,7).
Paul Claudel, um grande convertido francês, dizia que “uma
alma que se eleva, é uma alma que canta”. Para cantar é preciso se elevar, isto
é, cultivar no coração coisas boas e belas. O bom e o belo nos levam a cantar;
é a alegria do espírito, que não se consegue com os simples prazeres da carne.
O salmista sabia que a alegria viria depois da luta:
“Os que semeiam entre lágrimas, recolherão com alegria. Na
ida, caminham chorando, os que levam a semente a espargir. Na volta, virão com
alegria, quando trouxerem os seus feixes” (Sl 125,5-6).
Mas a alegria brota somente em um coração justo e cheio de
esperança. Não pode haver alegria onde impera o pecado. Santo Agostinho dizia:
“o pecado é a tua tristeza, deixa que a santidade seja a tua alegria”. “Para o
justo é uma alegria a prática da justiça, mas é um terror para aqueles que
praticam a iniquidade” (Prov 21,15). “A luz resplandece para o justo, e a
alegria é concedida ao homem de coração reto” (Sl 96,11). “Possam minhas
palavras lhe ser agradáveis! Minha única alegria se encontra no Senhor” (Sl
103,34). “Brados de alegria e de vitória ressoam nas tendas dos justos” (Sl
117,15).
Você pode notar que as pessoas bondosas e caridosas são
alegres e prestativas. A alegria é como que uma medida pela qual se pode julgar
o grau de caridade de uma alma e até mesmo de um grupo de pessoas.
A alegria cristã brota do amor. “Nada se iguala ao sabor do
pão partilhado”, disse Saint-Exupéry. Quando olhamos para as feridas dos
outros, e as curamos, as nossas quase desaparecem; o mal é ficar morbidamente
debruçado sobre nossas misérias. Isto nos leva ao mal da auto piedade e nos
rouba a alegria.
Vimos que São Paulo recomenda a paciência. Quando o
sofrimento está a nossa frente e nada podemos contra ele, resta então a
paciência, com esperança, certo de que “não há bem que dure para sempre nesta
vida, mas também não há mal que não se acabe”, como diz o povo.
Impacientar-se diante da dor é o mesmo que aumentá-la; não se
livra da tristeza desesperando-se diante dela ou, pior ainda, desanimando. Ao
contrário, é preciso agir com a paciência sustentada pela esperança e pela fé
em Deus, que tudo comanda. A Bíblia é repleta de exortações sobre a paciência;
pois ela é a virtude dos mártires.
“O homem paciente esperará até um determinado tempo, após o
qual a alegria lhe será restituída” (Eclo 1, 29).
“Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos
será fonte de alegria” (Eclo 2,9).
Por fim o Apóstolo recomenda rezar. Quem reza permanece
alegre, porque Deus é a sua força e alegria; mas é preciso “orar sem cessar” e
sem desanimar. O que quer dizer isso? É manter o espírito em Deus, ter a alma
ligada a Deus, mesmo no trabalho, no volante do carro, no banho da criança, na
parede que se levanta… elevar o espírito a Deus, sentir sua Presença, falar com
Ele familiarmente, recomendar-se a Ele, entregar-lhe as preocupações e
ansiedades, confiar Nele.
Rezar é também viver os Sacramentos. Que bem faz a santa
Missa pela manhã! Que alegria entregar o dia a Jesus na Comunhão! “O temor do
Senhor alegra o coração. Ele nos dá alegria, regozijo e longa vida” (Eclo
1,12).
Como você pode notar nessas palavras, a alegria brota também
no coração daquele que ama a Palavra de Deus e seus ensinamentos.
“Minha herança eterna são as vossas prescrições, porque fazem
a alegria de meu coração (Sl 118,111). “Encontro minha alegria na vossa
palavra, como a de quem encontra um imenso tesouro” (Sl 118,162).
Não nos é proibido desfrutar das saudáveis alegrias da vida;
a presença dos filhos, um passeio agradável, um almoço festivo… mas tudo isso é
transitório e deve apenas nos ajudar a viver em Deus e para Deus.
São Paulo manda alegrar-se em Deus. Deus está perto e tudo
vê. Em Deus podemos nos alegrar continuamente, pois Ele não muda. Se você põe a
sua alegria somente no seu time de futebol, já experimentou que essa alegria é
alternada com muitas tristezas. O mesmo se dá se a raiz da nossa alegria forem
as coisas que passam e que mudam.
O Apóstolo nos garante que assim “a paz de Deus guardará os
nossos corações“.
“Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! Seja
conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos
inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas
preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de
Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e
vossos pensamentos, em Cristo Jesus.” (Fil 4, 4-7)
Prof. Felipe Aquino
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