Planejamos a vida,
mas a vida segue seus planos. Hoje celebro meus 60 anos de vida. E, para chegar
até aqui, passei por muitos erros e acertos, projetos, sonhos, vitórias,
decepções, alegrias, angustias e lágrimas. Muitas vezes, alimentei expectativas
e colhi decepções. Não me refiro à ninguém em especial, mas a mim mesmo.
Olhando para trás, posso dizer: construir nesses 60 anos uma história de vida!
Mas, será se esta história poderia ter sido diferente?
Uma pergunta não
quer calar em meu coração neste dia em que celebro 60 anos e a humanidade vive
essa pandemia do Covid-19, em meio a esse vazio trazido por um medo que não
conhecíamos e que parece agora um inquilino da nossa alma. O que realmente é importante? O que precisamos na vida?
Talvez
alguns digam, precisamos viver algo trágico, com lágrimas, para variar. Sair da
rotina e viver com adrenalina, porque a vida sem isto perde toda a sua graça.
Pode
ser assustador, mas eu, aos sessenta, acho que ainda não encontrei o que quero.
Quero o conforto da comodidade? Acho que não. Eu quero Deus. Quero poesia.
Quero correr perigo. Quero liberdade. Quero bondade. Quero amor. Quero amar
mais. Será se faltou isso e eu nem percebi? O que faltou? Recordo o poeta que
diz: “Eu devia ter amado mais, perdoado mais [...] viver a vida como ela é”.
Olha
só, celebro sessenta anos e festejo no silêncio da quarentena. O que fazer para
festejar esta data? Lembro-me que ao celebrar meus cinquenta anos, escrevi um
texto que dizia: “estou bem aos cinquenta e ainda sou capaz de sorri até
chorar”. Era capaz de dar uma gargalhada solta. Naquela data celebrei com
amigos e familiares e lembro-me bem quando alguém perguntou o que eu queria
fazer, e eu prontamente disse: - Algo diferente que me tire da rotina. E agora
aos sessenta eu me pergunto, como celebrar? Acho que não tenho muitas opções a
não ser no silêncio do coração, procurando avaliar a vida nos seus acertos e
erros.
Neste
silêncio me vem muitas recordações, lágrimas ao lembrar as feridas; e emoção ao
lembrar as vitórias. A vida é assim. Fazer o quê? Peço perdão dos erros, e
hoje, e todos os dias, coloco nas mãos de Deus as feridas e uma em especial:
acho que não tem ferida maior do que ser acusado de algo que você não fez. Só
sabe disso quem já passou. Tenho uma ferida que sangra a cada dia e acho que
vou levar ela para sempre. Um espinho na carne.
Neste
silêncio estou reivindicando o direito de ser infeliz, porque só passando pela
infelicidade você encontra a felicidade. Passando pela dor, para alcançar a
fortaleza. Pois é na dor que se chega a quem somos.
Quero
viver em constante apreensão quanto ao que vai acontecer nos próximos minutos.
Talvez
isto explique algumas atitudes, desejos, fantasias. Sem isto a vida fica sem
graça. Hoje fico pensado em coisas tão simples: a vida. Temos tantas chances
pra viver bem e muitas vezes, por obstinação, complicamos a nossa vida e a dos
outros. Fico pensando em coisas tão simples: faz, deixa eu ver, sente. Não são
coisas grandes que nos trazem encanto e felicidade.
Jogar
uma conversa fora, que no final parece tudo bobagem, faz a diferença. É no
diferente que encontro sentido.
Talvez
seja isto que EU preciso! Vamos que vamos. É a vida que segue. Celebrando
sessenta anos no silêncio da quarentena aproveitando para dar uma olhada no baú
da vida com sua chave do passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário